Constituintes químicos e atividade farmacológica de
Baccharis dracunculifolia DC.
A espécie Baccharis dracunculifolia DC (De Candole), é popularmente conhecida
como vassoura ou alecrim-do-campo, é amplamente utilizada na medicina caseira. A
forma de infusão de suas folhas é empregada para problemas hepáticos, disfunções
estomacais e como antiinflamatório. Estudos de literatura relatam o uso
medicinal e religioso do “alecrim-do-campo” comercializado em mercados e feiras
livres no Rio de Janeiro (Azevedo & Silva (2006), assim como a utilização das
folhas para feridas (Freise, 1933, citado por Fenner, et al. 2006) e o uso dos
ramos, em decocto, como antifebril (Rodrigues & Carvalho, 2001).
É uma planta dióica com as inflorescências masculinas e fêmininas, cujo arbusto
cresce em quase todo o Brasil, e a principal fonte botânica da própolis verde no
sudeste do Brasil. Uma característica dos compostos fenólicos das própolis
analisadas e da espécie vegetal de B. dracunculifolia foi a alta proporção de
artepilina C e outros derivados do ácido cinâmico. Com base nas evidências
fitoquímicas, B. dracunculifolia foi identificada como a principal fonte vegetal
das própolis produzidas nos estados de São Paulo e Minas Gerais (Alencar et al.,
2005).
O extrato de B. dracunculifolia mostrou a presença de germacreno-D,
biciclogermacreno, assim como derivados prenilados do ácido coumarinico.
Germacreno-D e o biciclogermacreno (14%) estão entre os principais compostos do
óleo essencial em conjunto com o delta-cadineno (13%) e germacrona (5%) (Loayza
et al., 1995).
Os extratos aquosos da própolis de B. dracunculifolia e de partes da planta
contêm o ácido 3,4-di-O-ácido-cafeoilquinico, ácido-3.5-di-O-cafeoilquinico e o
ácido clorogênico. Além disso, 27 compostos incluindo os diterpenos labdânicos,
compostos prenilatedos, flavonóides e outros fenólicos que foram isolados
préviamente da própolis, foram identificados também no extrato metanólico de B.
dracunculifolia. Entre eles, 24 compostos foram detectados nas gemas, indicando
que deve ser uma fonte importante da própolis. A origem botânica de 19
componentes foi pela primeira vez estabelecida para B. dracunculifolia (Tezuka
et al., 2003).
Resende (2007) confirmou seu potencial efeito anti-mutagênico no extrato obtido
em acetato de etila. A análise do extrato por cromatografia líquida de alta
eficiência permitiu a identificação dos compostos fenólicos: ácido cafeico,
ácido p-coumárico, éter de aromadendrina-4'-O-metil, ácido 3-prenil-p-coumárico,
3,5-diprenil-p-coumárico (artepilina C) e baccharina.
Funari et al. (2007), concluíram que a planta Baccharis dracunculifolia é a
principal fonte botânica da própolis do estado de São Paulo, investigada para
verificar a atividade biológica específica com relação aos fibroblastos em ratos
NIH-3T3, células da pele envolvidas diretamente nos processos de cicatrização. O
perfil cromatográfico, caracterizado pela maior parte por flavonóides e por
ácidos aromáticos, demonstrou ser qualitativamente similar ao da B.
dracunculifolia. Foi encontrado que a própolis de B. dracunculifolia apresenta
uma toxicidade dependente da concentração in vitro em fibroblastos do rato NIH-3T3.
Os perfis cromatográficos das gemas da folha e da própolis e das folhas não
expandidas e expandidas de B. dracunculifolia mostraram similaridade, mas as
folhas não expandidas diminuíram quantitativamente em constituintes químicos em
comparação às gemas da folha. No caso das folhas expandidas, todos os
constituintes químicos decresceram severamente ou desapareceram. Artepilina C
(ácido 3,5-diprenil-4-hidroxicinâmico) foi identificado também em própolis e em
exudatos resinosos e em ambos os extratos etanólicos continham as concentrações
mais elevadas deste composto em comparação aos outros constituintes químicos (Park
et al., 2004).
Menezes (2005) avaliou a atividade antiinflamatória do extrato aquoso desta
planta utilizando o modelo de pleurisia induzida por zimozan em camundongos. Os
resultados indicaram que o extrato bruto aquoso de B. dracunculifólia possui
atividade antiinflamatória e que é mais potente quando, concomitantemente,
administrado ao estímulo da inflamação.
Silva Filho et al., (2004) através do fracionamento cromatográfico das folhas,
usando diversas técnicas, isolou os compostos isosakuranetina, aromadendrin-4'-metileter,
ácido ferúlico, ácido diidrocinâmico, 3-prenil-4-(diidrocinnamoiloxi)- ácido
cinâmico e friedelanol. Um sesquiterpeno novo, baccharisketona, e um monoterpeno
novo, acetato de p-metoxitimol , foi isolado das folhas de B. dracunculifolia
junto com dezessete compostos conhecidos. A atividade inibitória do crescimento
dos compostos isolados contra células da leucemia (L 1210) foi testada e três
terpenos fenólicos e cinco álcoois sesquiterpênicos exibiram forte atividade
citotóxica (Fukuda, et al., 2006).
Lemos et al. (2007), testou a eficiência do extrato da planta contra ulceras
gástricas. A análise por cromatografia líquida de alta eficiência da composição
química do extrato de B. dracunculifolia usado neste estudo revelou a presença
principalmente de derivados ácidos e de flavonoides cinamicos. As doses de 50,
250 e 500 mg/kg do extrato cru de B. dracunculifolia e de controles positivos (omeprazol
ou cimetidina) diminuíram significativamente o índice da lesão, a área total da
lesão e a porcentagem da lesão causada pelas ulceras comparados com os grupos de
controle negativos. A porcentagem da inibição das ulceras foram
significativamente mais elevadas nos grupos tratados com o B. dracunculifolia,
cimetidine ou omeprazole, com todos os protocolos usados, comparado com os
grupos de controle negativos. Em relação a secreção gástrica, as reduções no
volume do suco gástrico e a acidez total foram observados, assim como o aumento
no pH gástrico. Estes resultados foram similares aos resultados dos estudos
realizados com extrato verde da própolis. Embora mais investigações sejam
necessárias, nossos resultados sugerem que o B. dracunculifolia tem potencial
para ser usado como um preparado fitoterápico para o tratamento da ulcera
gástrica.
Leitão et al. (2004), utilizaram o extrato da folha de B. dracunculifolia e o
extrato verde da própolis ambos os extratos produziram efeito bacteriostático em
culturas de Streptococcus mutans na concentração de 0.40 mg/ml. Os resultados
demonstram que o extrato da folha de Bd e os extratos verdes da própolis têm
efeitos inibitórios similares nos fatores cariogênicos de S. mutans, e permite
nos sugerir que as folhas de Bd pode ser uma potencial fonte de produtos
farmacêuticos empregados para esta finalidade.
Da Silva Filho et al., (2004) utilizaram várias concentrações do extrato de B.
dracunculifolia como tripanomicida. Os compostos isosakuranetin e oxido de
baccharis foram os mais ativos na analise tripanomicida, mostrando os valores
CI50 (concentração inibitória requerida para a inibição de 50%) de 247.6 e 249.8
microM, respectivamente. Compostos aromadendrin-4'-metileter, acido ferulico, e
3-prenil-4-(diidrocinnamoiloxi)- acido cinamico indicaram atividade moderada e
os compostos acido diidrocinnamico e friedelanol foram inativos.
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