FARMÁCIA VERDE
FARMÁCIA VERDE RESGATE DA SABEDORIA POPULAR.
Projeto “A cura pelas plantas”.
Marcelo Rigotti
2010
O que todo usuário de plantas medicinais deveria saber para sua correta
utilização.
O uso das plantas medicinais na cura de doenças e melhoria da qualidade de
vida tem feito parte das vidas das pessoas desde o inicio da humanidade, hoje
muitas das receitas que eram apenas do conhecimento popular tem sua eficácia
comprovada pela ciência. Na Índia e na China o uso das plantas já faz parte da
medicina por pelo menos 2000 anos. No Brasil ainda não se tem um conhecimento
razoável sobre a forma de utilização dessas plantas, a maioria dos usuários
utilizam as ervas de forma incorreta ou ineficaz, o modismo ainda é uma forma de
se conhecer as plantas de uso medicinal, entretanto passageira. As matérias em
revistas não científicas tornam o uso das plantas medicinais de certa forma até
perigoso, entretanto as reportagens na televisão têm seguido um formato que
deveria ser utilizado pelas revistas, como a consulta a especialistas da área.
O local e o estado onde a maioria das pessoas adquire as ervas é um outro
problema que pode até se tornar um risco a saúde, muitas ervas são vendidas na
rua ou expostas ao ar livre em feiras e mercados populares, quando o correto
seria essas plantas serem vendidas embaladas e beneficiadas de forma adequada.
Tive a oportunidade de presenciar plantas secas ao sol embaladas e serem
vendidas nas ruas das cidades. Essas plantas não possuem princípio ativo algum,
podendo ainda sofrer contaminação por microorganismos.
Um outro problema da falta de conhecimento sobre a utilização das ervas
medicinais esta na forma e dosagem de uso, pois dependendo da forma a planta
pode ser eficaz ou não, assim como a dosagem se for baixa pode não ter o efeito
procurado se for alta pode causar intoxicações e efeitos adversos. Conheci um
caso em que a pessoa usou ervas compradas em raizeiro para emagrecer, tomou um
litro de garrafada com os três tipos de ervas em apenas um dia. Tomou em torno
de 10 vezes a dosagem recomendada, a conseqüência foi provavelmente uma
alteração hormonal que causou efeito contrário e o efeito foi um aumento de
peso, mais que o triplo do que tinha antes em pouco tempo.
Ainda é muito comum seguir receitas indicadas por parentes ou vizinhos sem
conhecimento das ervas, mas é outro grande risco que pode até agravar a saúde
como foi o caso da utilização do suco de carambola para pacientes crônicos
renais. Indicada provavelmente pela mídia, esse suco piora a situação desses
pacientes, pois a carambola é rica em potássio que não é filtrado pelo rim e se
torna tóxico para o organismo.
O conhecimento através dos nomes populares das plantas pode gerar duvidas e
enganos na sua utilização, como o caso da espinheira-santa, existem várias
espécies sendo comercializadas com este nome, algumas delas sem o efeito
comprovado para a Maytenus ilicifolia.
A educação para as Plantas Medicinais deve ser incentivada na sociedade, já que
é e sempre vai ser utilizada pelas pessoas na busca da cura das doenças e
melhoria da qualidade de vida.
1. INTRODUÇÃO
O programa FARMÁCIA VIVA começou a ser desenvolvido pelo Prof. Francisco de
Abreu Matos da Universidade Federal do Ceará (UFC). Este programa tem despertado
muito interesse em organizações governamentais e não governamentais de medicina
tradicional, e tem sido adotado em vários municípios brasileiros. Neste artigo
vamos denominar o projeto de FARMÁCIA VERDE.
O Projeto FARMÁCIA VERDE leva aos participantes, que em geral são voluntários da
comunidade a aprender a identificar, cultivar, coletar, secar, manipular e usar
as plantas medicinais. Atividades tais como palestras sobre formação de
cooperativas, preservação do meio ambiente e um curso de artesanato com produtos
retirados das plantas medicinais como sabonetes, sachês, velas perfumadas e
outros também devem ser incentivados.
A implantação deste projeto em pequenas comunidades deve começar pela
conscientização das pessoas do local e em seguida reunir um grupo de voluntários
interessados em trabalhar no projeto. Cada pessoa terá uma função no projeto
seja na horta, manipulação dos remédios ou em serviços como limpeza e
administrativos, todos devem desempenhar suas funções de forma simples, mas com
obstinação.
As plantas são selecionadas por sua eficácia terapêutica e baixa toxicidade. O
objetivo do projeto FARMÁCIA VERDE é oferecer alternativas terapêuticas eficazes
e de baixo custo.
OBJETIVOS
1. Resgatar a sabedoria popular e sua interação com o saber científico.
2. Proporcionar a integração entre os setores governamentais locais e a
comunidade.
3. Promover cursos e treinamentos.
4. Produzir mudas para serem doadas à comunidade
5. Identificação botânica das espécies encontradas na região.
6. Produzir material vegetal para uso da comunidade e/ou da unidade local de
saúde (em área pública ou comunitária).
7. Promover ações de conscientização e de preservação das espécies nativas,
evitando extrativismo indiscriminado e incentivando seu cultivo.
8. Estimular a comunidade a cultivar plantas medicinais em quintais,
instituições, escolas, etc.
METODOLOGIA
1. Através de reuniões, buscar a participação da comunidade.
2. Levantamento do uso popular de plantas medicinais.
3. Seleção de espécies medicinais.
4. Implantação da Farmácia Viva.
5. Repasse do conhecimento popular para as pessoas da comunidade.
6. Avaliação do andamento do projeto.
ESPAÇO FÍSICO PARA A PRODUÇÃO DOS MATERIAIS VEGETAIS
Este espaço físico e a horta devem estar preferencialmente juntos. Os
equipamentos necessários são os mesmos encontrados em qualquer cozinha: fogão,
geladeira, pias, bancadas ou mesas, liquidificador, armários e utensílios como
panelas, colheres, facas, etc.
Em instituições mais avançadas até sala para recepção pode existir desde que
haja espaço e não seja necessário investimento. As plantas devem ser
provenientes da horta própria ou de coleta dos voluntários, devendo-se evitar
coletas em lugares poluídos ou plantas com aspecto duvidoso.
IMPLANTAÇÃO DA HORTA MEDICINAL
Escolha do local: O local deve ser próximo da comunidade, cercado ou protegido
contra invasão por animais, sem sombreamento e abastecido com água potável.
Preparo do solo: Deve ser plano ou com pouca inclinação, sem pedras ou galhos ou
restos de construção. Após a limpeza do solo, este deve receber uma dose de
calcário para equilibrar a acidez e assim os canteiros podem ser levantados a
pelo menos 10 cm.
Viveiro para produção de mudas: As mudas podem ser produzidas através de
sementes ou vegetativamente em saquinhos ou bandejas, podem ser doadas pela
própria comunidade para estabelecer um banco de plantas matrizes. O substrato
deve ser adequado para a produção de mudas, este deve ter uma parte de terra
peneirada, uma parte de terra de “mata” peneirada, uma parte de areia e um
quinto de adubo orgânico ou esterco de aves bem decomposto. O viveiro deve ser
instalado em local aberto, deve ser coberto com sombrite e plástico transparente
e as bancadas devem ter uma altura que permita o fácil manuseio e acima da
superfície do solo.
2. INDICAÇÕES DE PLANTAS PARA OS PRINCIPAIS PROBLEMAS DE SAÚDE.
Abcessos e Furúnculos
Linhaça, cebola, repolho, malva, camomila, arruda, alecrim, orégano, inhame,
bardana, insulina, ipê-roxo, maria-preta, melão-de-são-caetano, pariparoba,
sabugueiro, guiné, mimosa, assa-peixe, fortuna, tanchagem, beldroega, gervão.
Acidez do estômago
Bardana, boldo, melissa ou capim limão, endro, poejo, funcho, fortelã, losna,
pariparoba, picão (folha e flor), quebra pedra, tanchagem e mamica de cadela. (a
casca é muito eficaz).
Ácido úrico
Chapéu de couro, manjerona, sabugueiro, cascas de maçã secas ao sal, bardana.
Acne, cravos e espinhas
Altéia, arnica, parietária, tília, bardana, mil-folhas, calendula, maria-preta,
tanchagem, melão-de-são-caetano
Aerofagia
Quássia, funcho, anis-estrelado, erva-doce, cominho, tília, hortelã
Afecções de Garganta
Flor de laranjeira, alho, limão
Afta
Cavalinha, cenoura, limão, tanchagem, babosa, malva
Alergia
Tomar chá de calêndulas. Lave parte afetada com chá de camomila
Amigdalite
Sálvia, rosa-branca, malva, alfavaca, cebola, tanchagem, eucalipto
Anemia
Couve, espinafre, rabanete, tomate, morango, amora, urtiga, repolho, limão,
funcho, carqueja, quina, alfafa, bucha, abóbora.
Angina
Altéia, malva, tomilho, guaco
Ansiedade
Melissa, tília, capim-limão, maracujá
Arteriosclerose
Limão, malva, raiz de salsa, alho, cebola, alcachofra, repolho, tomate, acelga,
cana-de-macaco, guaco, gengibre, fortuna, fedegoso.
Artrite e Reumatismo
Bardana, cebola, alho, sabugueiro, genciana, malva, tília, limão, dente-de-leão,
cavalinha, melancia, banana, mamão, uva, alecrim, camomila, insulina, ipê-roxo,
poejo, lágrima-de-nossa-senhora, lírio-do-brejo, melhoral, mentrasto, pariparoba,
rubim, sabugueiro, arnica-do-campo, erva-cidreira, mimosa, tanchagem, urtiga,
arnica-do-mato(Wedelia), boldo, calêndula, cana-de-macaco, capim-cidreira,
arnica, esqueleto.
Asma e Bronquite
Alecrim, guaco, anis-estrelado, orégano, sálvia, maria-preta, rubim, sabugueiro,
assa-peixe, erva-botão, urucum, esqueleto, boldo-cidreira, gervão, melhoral,
pariparoba, desmódio, rubim, erva-botão.
Berne
Paina-de-sapo, rubim
Boca- Afta e Estomatite
Cavalinha, cenoura, limão, tanchagem, babosa, malva, casca de carvalho, romã,
sálvia,
Cabelo
Mentrasto, capuchinha (caspa), urtiga (queda), babosa, bardana e calendula
(seborréia)
Calmante
Capim-limão, tília, folhas de maracujá, melissa, anis-estrelado
Catarro
Broto de pinheiro, tomilho, orégano, eucalipto, limão, alho,
Cicatrizante
Melão-de-são-caetano, melhoral, mentrasto, paina-de-sapo, tanchagem, urucum,
bardana, beldroega, arnica-do-campo, babosa, calendula, fortuna, guaco
Cistite
Pata-de-vaca, cavalinha, alfavaca de cheiro, malva, serralha, altéia, cabelo de
milho
Colesterol
Gervão, folha de limeira, erva-de-bugre, guaçatonga, cafezeiro do mato,
cavalhinha, folha de batata doce, picão-preto, urucum.
Cólica de Rim
Quebra-pedra, cabelo de milho, cavalinha, pata-de-vaca, raiz de salsa,
manjerona, melão-de-são-caetano, mentrasto (menstruais), picão-preto, rubin,
erva-cidreira
Contusões
Mentrasto, arnica, pariparoba, quebra-pedra, arnica-do-mato, arnica-do-campo,
canfrinho, fortuna, gengibre.
Coração - Palpitações
Sete-sangrias, tília, valeriana
Coriza
Tomar chá e pingar narinas: alcaçuz, sabugueiro, malva, poejo, limão
Descalcificação
Repolho, berinjela, cenoura
Diabete
Picão preto, dente de leão, bardana, pata-de-vaca, quebra-pedra, urtiga, urucum,
arnica-do-campo, cana-de-macaco, fortuna.
Diarréia
Broto de goiabeira, casca de carvalho, casca de romã, tília, carvão vegetal,
camomila, cenoura, abóbora, maçã, banana-maçã
Dor de Cabeça
Alfazema, alecrim, girassol, tília, melissa, hipérico, limão, pulsátila
Enjôo
Chá de hortelã, alecrim, camomila, boldo, erva doce, salsa. Mastigue canela.
Escabiose
Melão-de-são-caetano, urucum, arruda
Esgotamento e Stress
Salvia, tomilho, alecrim
Estimulantes
Salsinha, rabanete, tomilho, sálvia
Estômago
Sálvia, artemísia, camomila, capim limão, losna, macela, poejo, flor do
amazonas.
Estomatite
Romã, rosa-branca, sálvia
Falta de apetite
Alecrim, anis-estrelado, angélica, genciana, erva-doce, hortelã
Feridas e Úlceras
Alecrim, rubim, guaçatonga, mentruz, agrião, tanchagem, tomilho, quebra-pedra,
maria-preta, mentrasto, manjerona, tanchagem, calêndula.
Fígado
Losna, boldo, alecrim, caferana, pariparoba, desmódio, quebra-pedra,
picão-preto, arnica-do-campo, jambu, flor-do-amazonas, melão-de-são-caetano,
melhoral.
Frieira
Calêndula, casca de carvalho, cebola, alho, arruda, alecrim, rubim, guaçatonga,
mentruz, óleo de rícino
Garganta
Chá de folha de mamomeiro, camomila, canela, hortelã, malva e sálvia
Gases
Sálvia, erva-doce, cominho, hortelã
Gastrite
Pata-de-vaca, cavalinha, alfavaca de cheiro, malva, serralha, altéia, cabelo de
milho
Gengivite
Sálvia, erva-doce, cominho, hortelã
Gripes e Resfriados
Raiz de erva-doce, anis-estrelado, camomila, eucalipto, menta, limão, poejo,
tomilho, sabugueiro, melão-de-são-caetano, rubim, assa-peixe.
Hemorróida
Tanchagem, arruda, urtiga, assa-peixe, babosa, bardana, beldroega, gervão,
insulina, mastruço, melão-de-são-caetano, sabugueiro, erva-cidreira
Incontinência Urinária
Hipérico, saleriana, camomila, menta, tília
Insônia
Maracujá, lúpulo, valeriana, cidreira, meliss, tília, manjerona, alho, tanaceto,
capuchinha, poejo, melhoral, hibisco.
Laringite e Faringite
Malva, tanchagem, limão, eucalipto, broto de pinheiro, malva, tomilho, alho,
cebola,
Máscara para beleza da pele
Hipérico, saleriana, camomila, menta, tília
Mau hálito
Alfavaca, hortelã, melissa, tomilho, sálvia, anis-estrelado
Menstruação excessiva
Cavalinha, casca de carvalho, tília
Narinas congestionadas
Sálvia
Náuseas
Quássia, dente-de-leão
Nevralgias
Camomila, tília, maracujá, limoeiro, orégano, pulsátila, alfazema
Nervosismo, irritabilidade
Valeriana, tília, melissa, folhas de laranjeiras, rosa-branca, gatária,
maracujá, manjerona, maria-preta, melhoral, arnica-do-campo, arruda, boldo,
calêndula, capim-cidreira, erva-tostão, esqueleto.
Obesidade
Malva, sabugueiro, alcachofra, agrião, guaco, brócoli, caferana, carqueja.
Otite
Cebola, picão, rubim, alecrim, camomila, malva
Pressão alta
Limão, laranja, pêra, alho, sabugueiro, maracujá, quebra-pedra, Rubin, gervão,
urucum, capim-cidreira, guaco, capim limão
Pressão baixa
Urtiga, alecrim, manjericão, rabanete, uva, salsa, chá de agrião, alfavaca,
aveia, canela,
Prisão de ventre
Sene, malva, dente-de-leão, chicória, brócoli, quiabo, laranja, mamão, milho
verde cru em salada, tamarindo, cáscara-sagrada, beldroega, esqueleto, gervão,
mimosa, urucum, babosa, melão-de-são-caetano, sabugueiro.
Próstata
Quebra-pedra, figo-da-índia (Opuntia)
Psoríase, micose, erisipela, eczema, pano-branco
Arnica-do-campo, babosa, bardana, maria-preta, rubin, sabugueiro, erva-botão,
tanchagem, urtiga, urucum, capuchinha, fedegoso, fortuna gervão (vitiligo),
melão-de-são-caetano
Queimaduras
Babosa, aboboreira, esqueleto, pariparoba.
Rins/pedra
Alfavaca, quebra-pedra, cabelo de milho, sálvia, insulina,
lágrima-de-nossa-senhora, desmódio, picão-preto, assa-peixe, sabugueiro, bardana.
Rouquidão
Couve, cenoura, limão, broto de pinheiro, guaco, tomilho, tília, mel, gengibre,
boldo-cidreira.
Sarampo, catapora, rubéola
Sabugueiro, rosa-branca, malva, camomila, tília, cavalinha, raiz de salsa
Sarna
Melão-de-são-caetano, urucum, arruda, bardana
Sinusite
Hipérico, valeriana, camomila, menta, tília
Sistema urinário
Ipê-roxo, jambu (cálculos bexiga), mastruço, pariparoba, pata-de-vaca, desmódio,
quebra-pedra, sabugueiro, tanchagem, beldroega, cana-de-macaco, capim-cidreira
Transtornos da menopausa
Valeriana, menta, camomila, tília
Tosses
Tília, alho, cebola, agrião, tomilho, orégano, guaco, eucalipto, broto de
pinheiro, hortelã, poejo
Ulceras do estômago
Couve, banana, maçã, sálvia, tília, mamão, alecrim, casca de carvalho,
espinheira-santa, calêndula, fortuna, guaco, ipê-roxo, maria-preta, pariparoba,
desmódio, picão-preto.
Urticárias, brotoejas, alergias
Rosa-branca, alface, pepino, mamão, rubim, tanchagem
Varizes
Broto de pinheiro, rosa-branca, carqueja, tanchagem, arruda, arnica
Vesícula Biliar
Erva-tostão, figo-da-índia.
Verminoses
Alho, hortelã, cebola, mentruz, losna, tomilho, semente de abóbora, quássia,
abacaxi, ameixa, manga, poejo, coco, broto de samambaia, romã(casca), tomilho,
beldroega, gervão, babosa, mastruço, melão-de-são-caetano, Rubin, arruda
3. METABOLISMO SECUNDÁRIO EM PLANTAS MEDICINAIS.
Os produtos naturais são moléculas pequenas encontradas em vários tipos de
organismos tais como bactérias, fungos, plantas e outros. São utilizados no
tratamento de problemas de saúde para os humanos, incluindo doenças infecciosas,
neurológicas, cardiovasculares, metabólicas e oncológicas (Zhou et al. 2008).
As plantas produzem uma grande variedade de compostos químicos, os quais são
divididos em dois grupos, metabólitos primários e secundários. O metabolismo
primário é considerado como uma serie de processos envolvidos na manutenção
fundamental da sobrevivência e do desenvolvimento, enquanto o metabolismo
secundário consiste num sistema com importante função para a sobrevivência e
competição no ambiente (Dixon 2001).
Os metabólitos secundários nas plantas são compostos químicos não necessários
para a sobrevivência imediata da célula, mas serve como uma vantagem
evolucionaria para a sua sobrevivência e reprodução. Alguns metabólitos
secundários só estão presentes em determinadas espécies e cumprem uma função
ecológica específica, como por exemplo, atrair os insetos para transferir-lhes o
pólen ou a animais para que estes possam consumir seus frutos e assim poder
disseminar suas sementes. Também podem atuar como pesticidas naturais de defesa
contra herbívoros ou microorganismos patogênicos, além de agentes alelopáticos
(responsáveis por favorecer a competição com outras plantas), também podem
sintetizar metabólitos secundários em resposta a dano em algum tecido da planta,
assim como proteção para a luz UV e outros agentes físicos agressivos, incluindo
sinais para a comunicação entre plantas com microorganismos simbiontes.
Além disso, os produtos secundários das plantas compreendem uma riqueza de
compostos interessantes para o ser humano, pois tem grande aplicabilidade por
seus efeitos terapêuticos. Os metabólitos secundários tem a característica de se
acumularem em órgãos específicos ou em certas fases do desenvolvimento, eles
representam menos de um por cento do total da massa seca.
Alguns compostos são abundantes em varias espécies de plantas, tais como muitos
compostos fenólicos. Entretanto os alcalóides são produzidos por algumas
famílias ou por determinadas espécies. Aproximadamente 100.000 metabólitos já
são conhecidos, com cerca de 4.000 novos que estão sendo descobertos a cada ano
(Verpoorte et al. 2000). Existe grande quantidade de tipos de metabólitos
secundários em plantas e podem ser classificados segundo a presença ou não de
nitrogênio na sua composição.
Os três grupos de metabólitos secundários mais importantes em plantas são os
terpenos (um grupo dos lipídios), compostos fenólicos (derivados dos
carboidratos) e os alcalóides (derivados dos aminoácidos, principais
constituintes das proteínas). Os terpenos derivam do isopentenil difosfato (IPP)
e se conhecem 25.000 estruturas. Os alcalóides, em torno de 12.000, contem um ou
mais átomos de nitrogênio e derivam principalmente dos aminoácidos.
Aproximadamente 8.000 compostos fenólicos são provenientes das vias
biossintéticas do shikimato ou do malato/acetato. Muitos são importantes como
toxinas ou inibidores de alimentação e assim podem contribuir à sobrevivência da
planta.
Existem metabólitos secundários que tem estruturas ou origem similar aos
primários, exercendo funções semelhantes, como por exemplo, o ácido caurenóico e
o ácido abiético, ambos formados por uma seqüência de reações enzimáticas
semelhantes. O ácido caurenóico é considerado um metabólico primário porque é um
intermediário essencial na síntese de giberelinas (hormônio), o ácido abiético é
um componente da resina de alguns grupos de Fabaceae e Pinaceae, sendo por tanto
um metabólito secundário. Outro exemplo é a prolina, considerada como um
metabólito primário, análogo ao ácido pipecólico, um alcalóide. A lignina é um
polímero estrutural essencial da madeira e é o segundo composto mais abundante
nas plantas depois da celulose, considerado mais um metabólito secundário que
primário, pois para as plantas não vasculares, a lignina não é um composto
essencial na sua sobrevivência.
4. PRODUÇÃO DE MATERIAIS VEGETAIS
0. Pré-tratamento/Colheita.
Para a utilização das ervas de forma correta deve-se colher nas primeiras
horas pela manhã ou quando o clima e o sol não estiverem tão quentes. Em
seguida, deve-se selecionar/separar as partes que serão utilizadas de outras
impurezas como terra, folhas secas, insetos, etc. A pré-lavagem deve ser feita
com água sanitária (5%) em água por pelo menos 10 minutos, em seguida lavada com
água para retirar o excesso do produto. Deixar secar sobre pano ou papel (com
exceção de jornais) ou pendurados sempre na sombra. A planta estará seca quando
apresentar aspecto quebradiço, armazenar em potes de vidro ou em sacos de
polietileno, bem vedados para evitar contaminação. A utilização da planta fresca
segue o mesmo principio, sendo que neste caso pode ser deixada no sol por 10 a
15 minutos para retirar o excesso de água.
1. Tintura/Alcoolatrura.
É a maneira mais simples de conservar os princípios ativos da planta por
muito tempo, é obtida por extração dos princípios ativos das ervas por meio de
uma solução alcoólica (álcool de cereais, álcool absoluto, pinga).
- tintura é preparada com a planta seca = 100g da erva
- alcoolatrura com a planta fresca = 200g da erva
Como fazer: para 700 ml de álcool de cereais (ou vodka) + 300 ml de água
destilada.
Quando for utilizada planta desidratada, devem-se triturar as ervas em
liquidificador, passando por peneira em seguida mistura-se com álcool de cereais
e deixar descansar no escuro, normalmente por 5 a 10 dias, devendo ser agitada a
cada dois dias. Depois coar, envasar, tampar e etiquetar. Dose adulta: 25 gotas,
3 vezes ao dia. Validade: +1 ano. Quando a erva for fresca, deve-se bater no
liquidificador com o álcool, passar por papel filtro.
2. Pomada (cicatrizante, pancada, contusão, reumatismo, torcicolo, artrite,
fricção pós retirada do gesso).
Sugestão de ervas: melão-de-são-caetano, confrei, barbatimão, mil folhas,
arnica brasileira, serralha, alecrim, sabugueiro, melhoral, mentrasto, tanchagem,
urucum, bardana, beldroega, arnica-do-campo, babosa, calendula, fortuna, guaco,
algodão.
Óleo vegetal - 750 ml.
Parafina (velas) - 180 g.
Ervas - 500g.
Obs. A parafina serve para dar consistência adequada.
- Para pomada com tintura deve-se fazer uma mistura na proporção de 700ml de
álcool de cereais com 100g de ervas secas, deixar descansar por 5 dias. Após
este período pode ser utilizada para a produção da pomada, sendo 100ml da
tintura + 200ml de óleo de cozinha + 50ml de parafina. O óleo é colocado em fogo
médio para esquentar e derreter a parafina, em seguida é retirado do fogo, a
tintura pode ser acrescentada antes da mistura óleo/parafina solidificar (não
pode ser adicionada quando o óleo estiver ainda muito quente).
1. Derreter a parafina no óleo de cozinha.
2. Retirar os pavios das velas.
3. Deixar esfriando por 15 minutos.
4. Selecionar as ervas.
5. Bater as ervas no liquidificador com álcool.
6. Peneirar a solução do liquidificador.
7. Misturar a solução com a parafina e o óleo derretidos.
8. Despejar a solução em potes.
9. Fechar os potes com tampas.
10. Colocar etiquetas nos potes.
3. Xarope composto para gripe e bronquite.
Sugestão de ervas: alfavaca, guaco, hortelã gorda, poléo, tansagem, vick, ramos
com flores de sabugueiro, pulmonária, anis, assa peixe, pariparoba, embaúba,
terramicina, erva cidreira.
Água – 1 litro.
Açúcar cristal – ½ kg.
Ervas picadas – 200g.
- Ferver a água com o açúcar até ficar no ponto de xarope. Colocar as ervas
frescas, ferver por mais 5 minutos, repousar por mais 10 minutos. Deixar esfriar
pode acrescentar mel. Coar e guardar na geladeira. Validade: 3 meses dentro da
geladeira e 1 mês fora da geladeira.
1. Separar o açúcar.
2. Deixar a água ferver até dissolver.
3. Separar as ervas.
4. Despejar as ervas na solução.
5. Misturar as ervas, mexendo com uma colher.
6. Separar a solução das ervas com peneiras.
7. Envasar o xarope em frascos com tampa.
8. Após esfriar fechar o lacre da tampa e etiquetar.
4. Sabonete glicerinado.
Dos sabonetes comerciais é retirada a glicerina natural, proveniente do
próprio processo de fabricação de sabões, retirando, assim, do sabonete todos os
seus benefícios. A glicerina é um derivado de componentes graxos que elimina a
agressividade causada à pele presente nos sabonetes comuns e proporciona uma
profunda ação hidratante.
Base glicerinada para sabonetes - 1 kg.
Tintura - 20 ml.
Fôrmas e papel-filme para embalar.
-Coloque uma panela de ágata ou vidro em banho-maria e acrescente a glicerina em
pedaços em temperatura em torno de 60 a 70º C até a dissolução total;
-Espere derreter. Não há a necessidade de mexer a base enquanto estiver no
banho-maria.
-Desligar o aquecimento, gotejar o corante e homogeneizar até obter a cor
desejada;
-Adicionar o extrato e a essência misturando lentamente até homogeneização
completa;
-Acrescente o álcool de cereais e aguarde 1 minuto.
-Coloque a mistura na fôrma que você desejar e espere solidificar.
-Se der espuma nas formas borrifar com álcool de cereais.
-O tempo para endurecer vai variar de acordo com a fôrma que você estiver
utilizando.
1. Pôr um caldeirão com água até ferver, em seguida colocar uma panela esmaltada
na água fervente.
2. Colocar a base glicerinada picada aos poucos na panela esmaltada.
3. Mexer a base até derreter.
4. Preparar a tintura para adicionar à base glicerinada derretida.
5. Acrescentar a tintura, neste caso de própolis.
6. Em seguida despejar a base derretida nas fôrmas.
7. Após esfriar (pelo menos três horas fora da geladeira), retirar das fôrmas.
8. Embalar com papel filme e etiquetar.
5. Óleo para massagem (contusões).
São simples de se fazer e com resultados excelentes, pode se usar uma planta
ou combinação de até três plantas.
Sugestão de ervas: erva-de-santa-maria (Chenopodium), catinga-de-mulata (Tanacetum),
mentrasto (Ageratum), arnica brasileira (Solidago), arnica-do-mato (Wedelia),
arnica-do-campo (Porophylum).
Ervas frescas - 500g.
Álcool – 250ml.
Óleo de cozinha – 250ml.
Os ingredientes utilizados são: o álcool comum (graduação 92 ou 94%) e óleo de
cozinha (soja ou milho)
Modo de fazer: a planta fresca deve ser batida no liquidificador com o álcool,
em seguida peneira-se o bagaço da planta e volta a solução para o
liquidificador, acrescenta-se 250ml de óleo e bate novamente para homogeneizar a
mistura. A solução pronta deve ser armazenada em frascos escuros ou protegidas
da luz, o seu uso não deve ultrapassar os seis meses.
1. Separar as ervas.
2. Bater no liquidificador com álcool.
3. Passar a solução em papel filtro.
4. Massa vegetal que sobrou da solução.
5. Pode ser usada como uma cataplasma com pano ou gaze.
6. Separar o óleo e misturar com a solução.
7. Bater a mistura no liquidificador até ficar homogênea.
8. Armazenar em vidro escuro e etiquetar.
6. Vinho medicinal
O vinho usado com plantas medicinais, em maceração deve ser puro seco (sem
açúcar) podendo ser tinto (funções: adstringentes, tônicas) ou branco (funções:
diuréticas, digestivas). Usar 100g da planta seca ou 200g da planta fresca para
cada litro de vinho. Pode-se usar só uma erva ou mais que uma, mas mantendo-se a
proporção. Tampar e deixar em local fresco e escuro, por um período de 10 a 15
dias. Nesse período, deve ser agitado uma ou duas vezes por dia. Filtrar o
preparado e guardá-lo num frasco de vidro de preferência de cor escura.
Normalmente, o tratamento com vinho é feito tomando-se uma colher de sopa antes
ou depois das refeições, ou conforme indicações específicas. Validade: +1 ano
Algumas sugestões:
Digestivo - camomila, boldo, carqueja, hortelã, bardana, margaridão, alcachofra.
Calmante - maracujá, capim cidreira, sálvia, melissa.
Diurético – quebra pedra, bardana, cavalinha, cana do brejo.
Composto para diabete - alcachofra, graviola, insulina, carqueja, pata de vaca,
bardana.
1. Selecionar as ervas que serão utilizadas no vinho.
2. Misturar as ervas até ficarem homogêneas.
3. Separar os frascos onde serão colocadas as ervas.
4. Introduzir as ervas dentro dos frascos.
5. Acrescentar o vinho até cobrir as ervas.
6. Arrumar as ervas para que fiquem ao nível do vinho.
7. Tampar e colocar o frasco em sacos de pão.
8. Etiquetar e armazenar longe da luz.
7. Suco de folhas
As folhas além de fornecerem os princípios ativos de cada planta, ainda são
ricas em clorofila que tem ação antioxidante. Varias plantas batidas no
liquidificador resultam em um saboroso suco.
Suco de folha-da-fortuna (Kalanchoe): Usam-se cinco folhas grandes batidas com
700 ml de água adoçado com mel, este suco tem ação bactericida.
Suco de hortelã (Menta sp): Usam-se 15 folhas para um litro de água, combate
vermes e doenças do sistema respiratório.
Suco de capim limão (Cymbopogon): Picar 10 folhas da planta e bater com um litro
de água, é utilizado para baixar a pressão.
Suco de guaco (Mikania): para 1 litro de água bater 8 folhas da planta, adoçar
com mel, serve para problemas do sistema respiratório e males do estomago.
Suco de folha e flor de laranjeira (Citrus sp): Bater no liquidificador 10
folhas de laranjeira e 5 flores em 1 litro de água e adicionar mel, este suco
atua como calmante e ajuda o sistema respiratório.
Suco de folha de limão (Citrus): Usar 10 folhas para 1 litro de água e adicionar
mel a gosto, rico em vitamina C é usado para problemas respiratórios.
Suco de folhas de manga (Mangifera): Bater 5 folhas sem a nervura central ou a
folha picada para 700ml de água e adoçar a gosto, este suco combate vermes e
ajuda o sistema respiratório.
1. Lavar bem as ervas que serão utilizadas.
2. Picar as ervas.
3. Bater em liquidificador por pelo menos cinco minutos, adicionar algum tipo de
adoçante.
4. Passar em peneira fina.
5. Provar antes de servir.
Projeto “A cura pelas plantas”.
www.curaplantas.com.br
Engenheiro Agrônomo
Marcelo Rigotti.
e-mail: [email protected]