Plantas Medicinais Brasileiras Ameaçadas de Extinção:
Propostas para Conservação.
A humanidade utiliza os vegetais para proteção da saúde e alívio de seus males
desde o princípio de sua existência na Terra, há muito tempo, as plantas
medicinais têm sido usadas como forma alternativa ou complementar aos
medicamentos da medicina tradicional. O seu uso na medicina popular e a
literatura etnobotânica têm descrito o uso dos extratos, infusões e pós de
plantas medicinais por vários séculos contra todos os tipos de doenças (Van den
Berghe et al., 1986).
A utilização de plantas medicinais tornou-se um recurso terapêutico alternativo
de grande aceitação pela população e vem crescendo junto à comunidade médica,
desde que sejam utilizadas plantas cujas atividades biológicas tenham sido
investigadas cientificamente, comprovando sua eficácia e segurança (Cechinel e
Yunes, 1998).
É notável o crescente número de pessoas interessadas no conhecimento de plantas
medicinais, inclusive pela consciência dos males causados pelo excesso de
quimioterápicos causados no combate as doenças. Remédios à base de ervas que se
destinam as doenças pouco entendidas pela medicina moderna – tais como: câncer,
viroses, doenças que comprometam o sistema imunológico, entre outras –
tornaram-se atrativos para o consumidor (Sheldon et al., 1997).
O uso de plantas medicinais pela população mundial tem sido muito significativo
nos últimos tempos. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que
cerca de 80% da população mundial fez o uso de algum tipo de erva na busca de
alívio de alguma sintomatologia dolorosa ou desagradável. Desse total, pelo
menos 30% deu-se por indicação médica.
A situação mundial ocorre da mesma forma no Brasil, que é um dos países de maior
diversidade genética vegetal, contando com mais de 55.000 espécies catalogadas (Nodari
& Guerra 1999), entretanto, como conseqüência da revalorização mundial do uso de
plantas medicinais, a pressão ecológica exercida sobre alguns desses recursos
naturais tem sido grande nos últimos anos colocando em perigo a sobrevivência de
muitas espécies medicinais nativas (Montanari Junior 2002). De acordo com
Sánchez e Valverde (2000) o comércio local de plantas medicinais leva à
deterioração de populações naturais, tanto quanto a pressão extrativista da
indústria farmacêutica.
O relatório da ONG Plants for the Planet (http://www.bgci.org/), alerta para o
perigo que as plantas estão correndo, principalmente pela destruição do seu
habitat, as causas apontadas são extrativismo, a destruição das florestas e a
expansão da fronteira agrícola, dos pastos para criações animais e da
urbanização. O impacto causado nessas espécies afeta ainda as comunidades que
tem como fonte de medicamentos as plantas dessas regiões. Esses milhões de
pessoas ao redor do mundo confiam na medicina tradicional para tratar doenças
graves com plantas medicinais. A proteção dessas plantas não só é importante
para a saúde humana, mas para o ecossistema circundante e também para a própria
conservação da espécie.
Ainda de acordo com este relatório apenas 15% das drogas convencionais são
usadas em países em desenvolvimento. Por outro lado, 50 mil tipos de vegetais
(cerca de 20% das espécies conhecidas) são usados hoje em medicina tradicional.
Na China, em áreas rurais, o uso da medicina tradicional chega a 90%. Ao mesmo
tempo, de acordo com a Red List da ONG World Conservation Union (UICN), o país
tem quase 70% de suas espécies vegetais ameaçadas.
Estimativas recentes indicam que aproximadamente a cada quatro segundos, um
hectare de floresta tropical é perdido, e até o ano 2050, 60.000 espécies de
plantas terão sido extintas (Trankina, 1998). Segundo Beachy (1992) 40% das
florestas foram destruídas entre 1940 e 1980, com uma taxa de extinção de cerca
de 50 espécies por dia.
No Brasil não tem sido diferente, os seus maiores biomas, Cerrado, Amazônia e
Mata atlântica sofrem uma destruição cada vez maior. Em um estudo recente que
utilizou imagens do satélite MODIS do ano de 2002, concluiu que 55% do Cerrado
já foram desmatados ou transformados pela ação humana (Machado et al., 2004), a
floresta da Mata atlantica já perdeu mais de 93% de sua área (Myers et al.,
2000) e menos de 100.000km2 de vegetação remanesce. Na Amazônia mais de 67
milhões de hectares (2004) já foram desmatados (Homma, 2005).
A exploração das empresas e a biopirataria também tem causado prejuízos no
Brasil, não somente à flora, mas principalmente ao conhecimento tradicional da
biodiversidade e aos povos tradicionais que dela dependem.
Uma das causas da degradação esta no fato de que muitas plantas medicinais são
colhidas no seu meio natural, em vez de serem cultivadas, muitas plantas são
exploradas indevidamente por vendedores autônomos ou como são conhecidos “raizeiros”.
Estes por sua vez não têm o conhecimento necessário sobre coleta ou conservação
de plantas medicinais, assim como muitos tem dificuldades de reconhecer uma
planta de uso medicinal, comercializando plantas sem eficácia comprovada ou
plantas com identificação incorreta. Além deste fator que coloca em risco a
saúde de seus compradores, existe outro problema que é o beneficiamento
incorreto e o mau armazenamento das plantas, pela possibilidade de contaminação
com microrganismos e insetos.
As soluções a serem apresentadas para este problema são simples e eficazes,
embora necessite de uma união de esforços tanto do poder público quanto de
entidades civis e comunidade em geral.
O primeiro passo para se proteger as plantas medicinais em cada ecossistema é
fazer um levantamento para determinar quais são as plantas. Esse levantamento
deve ser feito nos ecossistemas presentes na região de atuação e também na
região urbana para se determinar quais plantas estão sendo comercializadas na
cidade.
A Educação Ambiental no sentido de proteção das espécies deve ser a principal
ação de qualquer projeto conservacionista. Os coletores autônomos devem ser
capacitados tanto quanto a coleta dessas plantas no seu habitat, quanto ao
cultivo e beneficiamento dessas plantas, sempre no sentido de se evitar o
desaparecimento das plantas do seu local de origem.
O incentivo a pesquisa nas universidades locais, principalmente em relação ao
cultivo de espécies medicinais nativas deve ser incentivado, assim como outros
projetos como levantamento etnobotânico e identificação de espécies. Deve se
levar em consideração que para se proteger uma planta em perigo, o uso de outras
plantas em menor risco deve ser estimulado. A casca de um arvore, por exemplo,
nunca deve ser fonte de coleta, a não ser que exista um plano de manejo para
cada espécie, pois as suas partes coletadas podem deixar cicatrizes para a
entrada de organismos que poderão destruir a planta em poucos anos. Um outro
exemplo seria a coleta de raízes, que pode levar a extinção da espécie no local,
pois assim se retira a principal forma de desenvolvimento vegetativo da planta.
As flores, frutos e sementes podem ser retirados, mas somente a partir do
momento que se iniciarem a propagação em viveiros dessas espécies, pois assim o
homem poderá introduzir as plantas que estariam sendo propagadas pela dispersão
das sementes.
Políticas publicas e fiscalização devem andar juntas no sentido da
regulamentação da comercialização dessas plantas na venda informal no município.
A criação de reservas naturais de plantas medicinais silvestres e a promoção do
cultivo de pelos agricultores locais também pode colaborar no sentido de
preservação. A garantia da não super exploração significa que as plantas
permaneceriam disponíveis para a comunidade local assim como para os próprios
coletores dessas plantas, mantendo contínua a sua fonte de renda.
A orientação sobre o uso das plantas medicinais, tem potencial para ser uma
grande força motivadora para a conservação da natureza. A melhoria da saúde, uma
fonte de renda e a manutenção de tradições culturais são importantes para todos
e devemos estar envolvidos em motivar as pessoas a conservar as plantas
medicinais e, por conseguinte, o habitat onde são encontradas.
Plantas ameaçadas de extinção de acordo com o IBAMA.
A vergatesa ou catuaba Anemopaegma arvense (vell) Stellf. ex de Souza, família
Bignoniaceae. É afrodisíaca, no tratamento da impotência e como estimulante do
sistema nervoso. As partes usadas da planta são a casca e raiz em infusão.
O Pau-rosa Aniba rosaeodora Ducke, é uma espécie importante economicamente para
a Região Amazônica, porque sua madeira é fonte de linalol, insumo utilizado
pelas perfumarias.
Gonçalo Alves ou Gonçaleiro Astronium fraxinifolium, família Anacardiaceae.
Parte usada casca.
Myracrodruon urundeuva Fr. All., é conhecida popularmente como aroeira-do-sertão.
As cascas do caule empregadas em disenterias e em úlceras gastroduodenais
Bertholletia excelsa H.B.K (Lecythidaceae) é uma planta tipica da floresta
amazônica e conhecida popularmente como castanheira. Na medicina popular a casca
do caule deste vegetal é utilizada como chá ou sumo para o tratamento de
moléstias crônicas do fígado e como antimalárica, e a água do fruto contra
hepatite.
Byrsonima coccolobifolia é conhecida popularmente como “murici” ou “sumanera”, é
uma planta que ocorre principalmente nas regiões Norte e Nordeste do nosso país.
A infusão das folhas e cascas são empregadas pela população para o tratamento de
disfunções gástricas e ainda como anti-diarréico.
Caesalpinia echinata, o pau-brasil, é uma árvore pertencente à família das
Leguminosas, sub-família Caesalpinoidae. É usada como adstringente e diuretica,
esta sendo pesquisada para tratamentos contra cancer.
Camarea affinis A. St.-Hil. Malpighiaceae pé-de-perdiz inflamações uterinas,
partos.
O pequi (Caryocar brasiliense Camb.) é um fruto do cerrado muito conhecido na
culinária regional. O óleo de sua polpa, além de conter antioxidantes naturais,
é também usado na medicina popular para sanar diversos tipos de afecções.
Casearia pauciflora Cambess Flacourtiaceae utilizadas como depurativas do sangue
e, também, o suco de suas folhas servem para mordeduras de cobras.
Cochlospermum regium, conhecida no cerrado mato-grossense como algodão do campo,
é utilizada na medicina popular para o tratamento de inflamações e para a
limpeza do sangue houve comprovação de efeito analgésico e antiedematogênico e
de atividade antibacteriana em Staphylococcus aureus e Escherichia coli.
O faveiro-de-wilson (Dimorphandra wilsonii Rizz.) é uma leguminosa arbórea,
encontrada na região de Paraopeba, no Estado de Minas Gerais, que possui boas
propriedades medicinais, pois apresenta em seus frutos potencial para extração
de glicosídeos flavonóides, especialmente a rutina.
Gallesia gorazema (Vell.) Moq., Crataeva gorazema Vell. Família: Phytolaccaceae,
guararema, ibirarema, pau-de- mau-cheiro, árvore-de-alho, ubaeté. Medicinalmente
é utilizado o chá das raízes, casca e folhas, para o tratamento do reumatismo e
úlceras. O chá das folhas é utilizado no combate à gripe. O cozimento das folhas
e raspas da madeira é usado para banhar tumores. A cinza, rica em potássio, é
muito procurada para o fabrico de sabão.
O jatobá (Hymenaea courbaril L.) é considerado uma espécie rara e naturalmente
de baixa densidade (Clay et al., 2000). Pertencente à família Caesalpiniaceae do
jatobá são aproveitadas todas as partes (resina, casca, raízes, polpa dos frutos
e seiva), seu principal uso é medicinal, sendo utilizadas contra afecções
pulmonares de modo geral, dores e cólicas estomacais, como vermífugo e
anti-diarréico, antioxidante, diurético, expectorante, hepatoprotetor,
Um grande número de Ipomoea vem merecendo especial interesse dos pesquisadores,
por causa da presença de alcalóides do tipo indólico com atividade antitumoral.
Nosso interesse tem sido verificar o potencial dessas
Krameria tomentosa St. Hil. carrapicho-de-cavalo KRAMERIACEAE RATÁNIA: [folhas e
floresAdstringente, usado em casos de diarréia e disenteria.
Lychnophora ericoides Martius é uma espécie arbustiva, é conhecida como arnica
de Goiás, arnica do campo, candeia, candieiro, pau de candeia e veludinho, e é
utilizada tradicionalmente na forma de tintura para o tratamento de hematomas,
contusões, dores musculares, varizes e também como anti-inflamatório.
Maytenus ilicifolia Celastraceae possui atividade antitumoral, antiácida,
antiulcerogenica, antiinflamatoria.
Uma espécie de Laurácea, a Ocotea pretiosa (Nees.) Mez., é bastante abundante no
vale do rio Itajaí-Açú, no estado de Santa Catarina, sendo do arraste a vapor de
seu tronco e lenho que se produz, no Brasil, o óleo de Sassafraz, cujo teor em 1
é superior a 90%.
Benjoeiro, Estoraqueiro Pamphilia aurea (Mart.) Mart. Styracaceae, parte usada:
resina, doenças antiblenorrágica, antiúlcera, calmante, doenças respiratórias,
leucorréia, rouquidão, tosse, tumor.
Uma das drogas mais importantes em oftalmologia é derivada das folhas de um
arbusto da família dos citrus, colhidas por índios e camponeses nas florestas do
Brasil. Jaborandi (Pilocarpus spp.; Rutaceae – Pilocarpinae).
Pouteria ramiflora e P. gardnerii família Sapotaceae podem ser encontradas no
Cerrado do Distrito Federal, Brasil. Pouteria torta (Mart.) Radlk e P. caimito
(Ruiz &Pav) Radlk podem ser encontradas em todo o Brasil. Ainda que não exista
uma política de exploração comercial dos frutos de P. torta, P. caimito e P.
ramiflora, as populações residentes no Cerrado usam tais espécies como alimentos
e remédio caseiro. A casca da árvore P. torta, é utilizada como remédio contra
desinteria. As raízes e a casca de P. ramiflora, chamada de são usadas como
remédios contra desinteria, bem como vermífugo. Pouteria caimito, conhecida como
abiu, também é útil em desinteria, além de afecções pulmonares e contra malária.
A Ipecacuanha (Psychotria ipecacuanha) é uma planta da família Rubiaceae, muito
comum no Brasil. As suas raizes contém um poderoso emético (estimulante do
reflexo do vomito) também denominado Ipecacuanha. A emetina também é usada
contra amebíase, pois atua como limitador na formação das proteínas, além de
efeitos circulatórios.
Spiranthera odoratissima A. St. Hillaire (Família Rutaceae), planta arbustiva
conhecida como Manacá, cresce em cerrado ralo na região central do Brasil1. O
chá da raiz é usado para dores de estômago ou musculares e disfunções hepáticas.
No estado de Goiás, suas raízes são utilizadas para o tratamento de reumatismo.
Resultados anteriores mostraram que o extrato etanólico da raiz (EER) apresenta
atividade antiinflamatória.
Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville (Leguminosae), distribuido pelo
cerrado, sua casca contme tanino, é usado contra leucorreia, diarréia,
antiparasitica e antiiflamatorio.
Zeyheria montana da família das Bignoniaceae, bolsa de pastor, suas raizes são
usadas contra doenças de pele.
REFERÊNCIAS
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